O movimento #RestoreNature, que integra 207 organizações europeias, provocou uma chuva de tweets para pedir apoio a legislação sobre pesticidas e restauro da natureza. Maria Amélia Martins-Loução, Presidente da SPECO, escreveu um artigo de opinião no Azul do Jornal Público.
Hoje em dia, habituámo-nos a interpretar os avisos emitidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para diferentes parâmetros meteorológicos. Os alertas são dados com base numa tabela de cores, que define o grau de intensidade de diversos fenómenos que podem colocar em risco as populações. Estes avisos, lançados tão amiúde, reflectem fenómenos adversos directamente relacionados com as alterações climáticas.
A seca, as chuvas, os ventos fortes e as temperaturas elevadas extemporâneas denotam bem as modificações que os cientistas divulgam há anos. A sociedade levou muito tempo a aceitar os avisos dos cientistas, demonstrando um viés cognitivo com base nas crenças arraigadas e nas evidências ambíguas do clima.
Actualmente, são raras as pessoas que duvidam de que o clima está a mudar não só porque são espectadores da intensidade dos fenómenos, mas também pela quantidade de informação que lhes chega em termos mediáticos, acabando por ser sensíveis à opinião generalizada. O mesmo não se passa quanto à preocupação sobre a degradação dos ecossistemas.
Mais de 80% dos habitats europeus estão em mau estado de conservação e, de acordo com dados recentes da Pordata, Portugal consome mais recursos naturais do que a média europeia.
Mas, do ponto de vista internacional, é tido como exemplo por possuir uma elevada percentagem de superfície (22%) ocupada por habitats naturais de Rede Natura 2000, protegidos pelas directivas europeias.Hoje em dia, habituámo-nos a interpretar os avisos emitidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para diferentes parâmetros meteorológicos. Os alertas são dados com base numa tabela de cores, que define o grau de intensidade de diversos fenómenos que podem colocar em risco as populações. Estes avisos, lançados tão amiúde, reflectem fenómenos adversos directamente relacionados com as alterações climáticas.
A seca, as chuvas, os ventos fortes e as temperaturas elevadas extemporâneas denotam bem as modificações que os cientistas divulgam há anos. A sociedade levou muito tempo a aceitar os avisos dos cientistas, demonstrando um viés cognitivo com base nas crenças arraigadas e nas evidências ambíguas do clima.
Actualmente, são raras as pessoas que duvidam de que o clima está a mudar não só porque são espectadores da intensidade dos fenómenos, mas também pela quantidade de informação que lhes chega em termos mediáticos, acabando por ser sensíveis à opinião generalizada. O mesmo não se passa quanto à preocupação sobre a degradação dos ecossistemas.
Mais de 80% dos habitats europeus estão em mau estado de conservação e,
de acordo com dados recentes da Pordata, Portugal consome mais
recursos naturais do que a média europeia.
Mas, do ponto de vista internacional, é tido como exemplo por possuir uma elevada percentagem de superfície (22%) ocupada por habitats naturais de Rede Natura 2000, protegidos pelas directivas europeias.
Portugal está nominalmente próximo de atingir as metas 30-30 (30% do território terrestre e marinho, águas interiores e costeiras, em conservação, e restaurar 30% dos ecossistemas degradados até 2030), estipuladas pelo Acordo Global para a Biodiversidade, assinado em Dezembro de 2022 na COP15. Todavia, os dados são omissos relativamente ao estado de conservação e muitas áreas estão bastante degradadas, sem gestão nem protecção adequada.
Ecossistemas diversos e funcionais são o nosso maior aliado na
luta contra as alterações climáticas.
Se o aumento de 1,5°C de temperatura é um limite planetário do clima que devemos todos ter em atenção e evitar alcançar, os 30% de habitat conservado em terra e no mar são fundamentais para apoiar o aprovisionamento de múltiplos serviços de ecossistemas que a natureza nos assegura: alimento em quantidade e qualidade, barreira aos incêndios e inundações, retenção e purificação da água, acumulação de carbono e manutenção de uma atmosfera limpa de poluentes.
A perda de integridade funcional em ecossistemas agrícolas e urbanos abaixo do limite seguro reduz a produtividade alimentar, a capacidade do ecossistema de mitigar riscos naturais, poluição e perdas de nutrientes do solo. Em zonas de solos degradados e mais vulneráveis, origina o aumento da dependência de pesticidas e biocidas nocivos. Estamos a caminhar para uma extinção em massa da biodiversidade e para o colapso climático, ameaçando a própria base da vida como a conhecemos. A ciência é muito clara sobre isto mas, até agora, os esforços têm sido insuficientes.
A gestão egocêntrica e a alteração climática
tornam a degradação dos ecossistemas cada vez mais evidente por toda a Europa.
A indiferença perante este assunto denota-se no pouco cuidado, indignação ou sentido crítico com que se reage perante árvores caídas, solo nu e seco, gestão “descuidada”. "Não há problema", "é da mudança do clima…", e a indiferença instala-se. Depois, o progresso tecnológico tem permitido resolver alguns “problemas” causados pela natureza.
Em Junho de 2022, a Comissão Europeia adoptou a proposta para um novo Regulamento de Uso Sustentável de Pesticidas (SUR) e já recentemente aceitou, para discussão e posterior aprovação, a proposta de Lei de Restauro da Natureza. Se o SUR pode ser o primeiro passo para uma política eficaz e coerente de redução de pesticidas, a Lei do Restauro da Natureza é uma oportunidade única para mudar o caminho da deterioração contínua dos ecossistemas e para a sua regeneração.
As discussões sobre a aplicação do Pacto Verde e da aceitação destes novos regulamentos em andamento na União Europeia têm sido marcadas por avanços e recuos. Os opositores argumentam que elas terão efeitos adversos sobre os agricultores, a pesca e a sociedade em geral, sugerindo que ameaçarão a segurança alimentar e culminarão com o desemprego. As alegações não só carecem de evidências científicas como também as contradizem, já que a aceitação dos processos legislativos é um pilar da segurança alimentar e da saúde humana.
Foi neste contexto que surgiu o movimento #RestoreNature, que envolve cerca de 207 organizações da sociedade civil europeia, para apelar a todos os membros do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia para que adoptem urgentemente uma Lei de Restauro da Natureza, que seja adequada ao propósito de enfrentar a dupla crise da biodiversidade e do clima.
Interesses escondidos, que estão continuamente a tentar minar a Lei de Restauro da Natureza, servem apenas para atrasar a acção, diluir a ambição ou limitar o alcance da lei, o que, para além de tornar mais difícil, mais caro e mais demorado lidar com as consequências, coloca em risco a nossa sobrevivência e toda a biosfera. Este grupo, a que a Sociedade Portuguesa de Ecologia se juntou, procura chamar a atenção dos parlamentares para aceitar o processo legislativo do SUR e restauro, através de uma chuva de tweets durante o dia 12 de Junho das onze ao meio-dia, antes da votação final no dia 15.
É também uma chamada de atenção a toda a sociedade e aos media de uma forma geral. A informação da urgência, sobre a necessidade de recuperar ecossistemas degradados, é tão necessária e pedagógica quanto a questão do clima. Precisamos de ser criativos para ter novas abordagens e aumentar a sensibilidade da sociedade. É tempo de assumir uma nova postura, uma menor desresponsabilização, causada por um viés de optimismo ligado ao efeito tecnológico. Tal como diz o Papa Francisco, temos de ser todos parte integrante para cuidar da nossa casa comum, porque o risco da degradação dos ecossistemas é cada vez mais real.
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