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"Planeta prateado", por Maria Amélia Martins-Loução

"Em poucos anos, Portugal será maioritariamente uma paisagem de ferro, silenciosa, espelhada. É uma verdadeira transição de uma imagem azul visa do espaço para uma imagem ofuscante e prateada".


Maria Amélia Martins-Loução, Presidente da SPECO, escreveu um artigo de opinião no Jornal Público.


"No Dia Internacional da Terra, comemorado todos os anos a 22 de Abril, continuamos a acompanhar a evolução do planeta. Jan Zalasiewicz, presidente da Subcomissão de Estratigrafia do Quaternário, considera que o funcionamento natural do planeta desapareceu, de forma acentuada e irrevogável, a partir de meados do século XX. De acordo com a hipótese de Gaia, proposta por James Lovelock e defendida por Lynn Margulis, o Homem era a única ameaça à resiliência que o planeta oferecia. A biosfera, estreitamente ligada e em interacção contínua, formava um sistema complexo, único e auto-regulado. Só o Homem podia quebrar essa capacidade, e já o fez.


Em pouco mais de 70 anos, o ser humano conseguiu alterar a composição da atmosfera, transformou a superfície terrestre, usa mais de metade da água doce corrente e de acesso fácil, cortou e desconfigurou os rios com a construção de barragens, esgotou ou diminuiu a população de peixes, em particular das zonas costeiras e passou a produzir fertilizantes que fixam muito mais nitrogénio do que é naturalmente fixado. Não há registo semelhante nos marcos da evolução do planeta.


Todas estas marcas deixadas pelo Homem ao longo do tempo são o corolário das alterações climáticas, que já tanto se fazem sentir. A ansiedade climática origina problemas de saúde, a poluição atmosférica mata mais do que os media comunicam e as medidas e investimentos em energias renováveis são compreendidas e aplaudidas pela sociedade.


A independência e a auto-produção energética são a grande aposta da Europa e de Portugal, em particular. Os projectos de energia renovável fotovoltaica em solos de baixo rendimento agrícola, nas barragens ou em zonas rurais abandonadas já alteraram fortemente a paisagem. Estão instalados em zonas semi-áridas, com uma forte exposição solar, sem água acessível e barata. São os eucaliptais do século XXI. Noutras zonas do país, e em projectos offshore são os moinhos de energia eólica com impactes conhecidos nos ecossistemas terrestres e sem se conhecer ou prever os verdadeiros impactes nos ecossistemas marinhos. O interesse dos proprietários e das empresas alia-se ao dos governos. O importante é avançar na transição “verde”, economicamente rentáveis, com a criação de “empregos verdes”. Em poucos anos, Portugal, a “pequena casa lusitana” como Orlando Ribeiro intitulava, será maioritariamente uma paisagem de ferro, silenciosa, espelhada. É uma verdadeira transição de uma imagem azul vista do espaço para uma imagem ofuscante e “prateada”." Ler mais.


+ ecoinfo | "Platena prateado" in publico.pt.


Saudações ecológicas.

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