Ana Paula Portela foi a vencedora do segundo prémio do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.
Ana Paula Senra Portela, investigadora e antes doutoranda no BIOPOLIS/CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, foi a vencedora do segundo prémio do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.
Ana Paula Portela desenvolveu um trabalho em que interliga a biodiversidade, serviços de ecossistema e estabilidade ecológica com a sustentabilidade dos ecossistemas fluviais. Esta tese demonstra que os ecossistemas e as comunidades vegetais ripícolas, assim como os serviços de ecossistema que fornecem, são vulneráveis ao crescente stress ambiental a longo prazo e a eventos de seca extremos. A alta sensibilidade, a limitada capacidade adaptativa e resiliência, e a diminuição da diversidade funcional provoca o declínio da estabilidade ecológica destes ecossistemas ripícolas. Nestas condições, o bem-estar humano será negativamente afectado pelo declínio do fornecimento de serviços de regulação, o qual poderá também comprometer soluções baseadas na natureza para mitigação e adaptação às alterações climáticas.
Para além dos resultados práticos que podem servir à gestão estratégica destas áreas, esta tese identifica também novas questões sobre a resiliência dos ecossistemas ripícolas, que deverão constituir prioridades de investigação futura em prol da sustentabilidade dos ecossistemas fluviais.
No âmbito da celebração deste marco, e de modo a realçar a importância da sua investigação, a vencedora foi convidada a responder a algumas perguntas, cujas respostas pode encontrar abaixo.
"O que esteve na base do desenvolvimento deste trabalho de doutoramento?"
Este trabalho surge de um interesse na ecologia dos sistemas aquáticos e ripícolas que surgiu durante o mestrado. Do ponto de vista ecológico estes sistemas captaram a minha atenção por serem dinâmicos, complexos e estreitamente ligados à paisagem que os rodeia. Além disso, têm uma evidente importância social como fontes importantes de recursos hídricos. Paradoxalmente, a gestão que fazemos destes ecossistemas pode colocar em risco a obtenção de recursos tão vitais como água potável.
Assim, surgiu a ideia de contribuir para uma gestão integrada e sustentável dos sistemas aquáticos e ripícolas tentando responder ao desafio da ambiciosa Diretiva Quadro da Água – garantir ecossistemas aquáticos em bom estado ecológico para assegurar a conservação da biodiversidade e necessidades humanas.
"Ao longo deste trabalho qual foi a sua maior alegria?"
Como maior alegria tenho de escolher o dia da defesa pela conquista que representa e pela sensação de crescimento pessoal e profissional. Apesar dos normais nervos, foi um dia feliz.
"Que desafios teve de enfrentar e que motivações arranjou para superar os seus problemas?"
Não há como não referir o efeito do COVID-19 no desenvolvimento da tese, que cancelou estadias, conferências e conversas relegando as nossas interações para o domínio digital.
As pequenas conquistas como conseguir programar e executar um novo tipo de análise ou um resultado interessante e inesperado deram-me alento para continuar. O apoio de familiares, amigos e colegas foi também importante para ultrapassar obstáculos e seguir em frente.
"O que ficou por explorar?"
Ficaram ainda muitas questões por explorar, mas a investigação dos efeitos de eventos extremos como secas nos ecossistemas ripícolas e aquáticos é um dos tópicos que gostaria de explorar nos próximos tempos.
"Quais serão os próximos passos da sua carreira?"
Como referi gostaria de continuar a explorar os efeitos das secas nos ecossistemas ripícolas com novas abordagens metodológicas para entender o impacto destes eventos a diferentes escalas.
"O que a levou a concorrer a este Prémio?"
O incentivo dos colegas e orientadores e obviamente o reconhecimento que representa.
"Que impacto espera obter com este resultado?"
Espero que este prémio permita aumentar a visibilidade do meu trabalho e das florestas ripícolas junto da comunidade científica nacional e do público em geral.
"O que gostaria de ver na SPECO que impulsionasse os jovens a seguir investigação em Ecologia?"
Penso que é necessário aumentar a visibilidade da investigação em Ecologia nas primeiras etapas da formação superior, em particular na licenciatura, mas também no mestrado. Nesse sentido, penso que é poderá ajudar apostar em atividades e divulgação direcionada a estes jovens aquando do encontro nacional.
Além disso, é importante apoiar os estudantes de doutoramento e jovens investigadores em Ecologia para que se possam continuar na investigação. Este prémio é um instrumento importante nesse sentido, mas poderia ser complementado com outras oportunidades de formação e desenvolvimento de carreira e eventualmente a criação de um grupo de jovens investigadores da SPECO.
"Como tenciona contribuir para aumentar a visibilidade da SPECO?"
A divulgação deste prémio a nível institucional irá contribuir para aumentar a visibilidade da SPECO junto da comunidade académica da Universidade do Porto. Além disso, irei contribuir para divulgação do encontro nacional no Porto o que poderá também aumentar a visibilidade junto de alunos e investigadores no Norte de Portugal.
"Que conselhos gostaria de dar aos jovens estudantes de Doutoramento?"
O processo científico está cheio de desafios intelectuais, técnicos e é alvo de um escrutínio intenso. É normal ouvir um “não”, as coisas não funcionarem à primeira tentativa e o nosso plano inicial não se concretizar. Por isso, o meu conselho é não desistam. Descansem, peçam ajuda, e tentem de novo. E finalmente celebrem as pequenas vitórias.
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