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Prémio de Doutoramento em Ecologia 2025 | Entrevista a Sara Mendes, 2ª Classificada

  • Foto do escritor: SPECO
    SPECO
  • 13 de ago.
  • 4 min de leitura

Sara Mendes foi a vencedora do segundo prémio do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO.


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Sara Mendes, actualmente investigadora no Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), Espanha, mas antes doutoranda no CFE (Centro de Ecologia Funcional) da Universidade de Coimbra, desenvolveu um trabalho sobre o impacto das alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a urbanização na capacidade de dispersão de sementes. Esta fase do ciclo de vida representa a única oportunidade de movimento das plantas, fundamental para a dinâmica das populações e para a sua resiliência às alterações climáticas. Este trabalho utilizou a abordagem das redes ecológicas e permitiu a construção da primeira rede de dispersão de sementes a nível Europeu, a mais completa para um continente. Com base nesta rede, avaliou o estatuto de conservação do serviço de dispersão de sementes na Europa e lançou uma ferramenta aplicável a outros tipos de interacções, funcionando como um indicador precoce da degradação das comunidades. O estudo forneceu a primeira evidência empírica de sementes dispersas por animais para além do seu limite actual de distribuição, mostrando a necessidade da conservação de animais dispersores para as plantas acompanharem as alterações climáticas. Ao estudar o papel da urbanização através desta ferramenta das redes ecológicas verificou ainda que os dispersores generalistas facilitam a dispersão de plantas exóticas das cidades para os ecossistemas naturais. Alerta assim para a importância de conservar a vegetação natural nos espaços urbanos e de controlar a introdução de espécies exóticas nos parques e ruas das cidades.


No âmbito da celebração deste marco, e de modo a realçar a importância da sua investigação, a vencedora foi convidada a responder a algumas perguntas, cujas respostas pode encontrar abaixo.


  • "O que esteve na base do desenvolvimento deste trabalho de doutoramento?"


A minha tese de doutoramento surge da necessidade de compreender a importância do serviço de dispersão de sementes face a desafios centrais da atualidade, como a fragmentação dos habitats, a defaunação e as alterações climáticas. Até ao momento, a maioria dos estudos tinha explorado os efeitos destas alterações globais em espécies focais. No entanto, é crucial perceber como é que as comunidades e as interações bióticas que as sustentam respondem a estas alterações, para garantir a conservação dos ecossistemas. Na minha tese, procuro responder a estas questões recorrendo a uma abordagem baseada em redes ecológicas.


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  • "Ao longo deste trabalho qual foi a sua maior alegria?"


Uma das maiores alegrias foi o tempo que passei na ilha de Tenerife em trabalho de campo, onde tive a oportunidade de explorar paisagens únicas por toda a ilha e conhecer pessoas que, até hoje, continuam presentes na minha vida profissional e pessoal. Além disso, no último ano de doutoramento publiquei um dos capítulos da tese numa das revistas multidisciplinares de maior impacto mundial, a Science, o que me deu um enorme sentimento de realização.


  • "Que desafios teve de enfrentar e que motivações arranjou para superar os seus problemas?"


Acho que o maior desafio foi ver o tempo a passar e sentir que ainda faltava muito trabalho para conseguir terminar o doutoramento, o que me gerou alguma ansiedade. O que me ajudou a ultrapassar essa ansiedade foi ter um orientador incrível, o Ruben Heleno, que esteve sempre ao meu lado, me acalmava e me aconselhava nesses momentos, dando-me motivação para continuar. Oxalá todos os investigadores de doutoramento possam ter um orientador tão fixe como o meu, porque assim esses anos desafiantes podem ser vividos de forma mais leve e tornar-se anos muito bonitos.


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  • "O que ficou por explorar?"


Ainda existem muitas lacunas no conhecimento sobre a dispersão de sementes na Europa. Por exemplo, desconhecemos os dispersores de 74% das plantas europeias que dependem de animais para a sua dispersão. Falta também compreender melhor de que forma o serviço de dispersão de sementes pode contribuir para alcançar as metas de biodiversidade, não apenas a nível europeu, mas também à escala global.


  • "Quais serão os próximos passos da sua carreira?"


Atualmente, sou investigadora no Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC), em Espanha, onde analiso redes ecológicas de dispersão de sementes para compreender a colonização das ilhas Canárias. No início do próximo ano, irei para a Alemanha, onde serei professora na Universidade de Göttingen e investigarei o papel dos animais dispersores de sementes na mitigação das alterações climáticas e no restauro dos habitats.


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  • "O que o levou a concorrer a este Prémio?"


Concorri a este prémio por ser uma oportunidade única de valorizar o trabalho desenvolvido ao longo de mais de quatro anos e de divulgar a investigação realizada, não só no meio académico, mas também junto do público em geral.


  • "Que impacto espera obter com este resultado?"


Espero que este prémio de doutoramento ajude a aumentar a visibilidade da importância do serviço de dispersão de sementes para a manutenção a longo prazo dos ecossistemas, dos quais todos dependemos. Espero também que contribua para reforçar a valorização dos investigadores de doutoramento na área da Ecologia.


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  • "O que gostaria de ver na SPECO que impulsionasse os jovens a seguir investigação em Ecologia?"


Acho que seria interessante haver iniciativas de mentoria com profissionais em diferentes fases da carreira, para promover a partilha de experiências e dar uma perspetiva mais clara das várias trajetórias profissionais que se podem seguir.


  • "Como tenciona contribuir para aumentar a visibilidade da SPECO?"


Pretendo partilhar esta conquista com a minha rede de contactos nacionais e internacionais e divulgar tanto a SPECO como os seus eventos nas minhas redes sociais.


  • "Que conselhos gostaria de dar aos jovens estudantes de Doutoramento?"


É normal haver altos e baixos e o plano nem sempre correr como esperado! Por isso, rodeiem-se de pessoas que vos apoiem; aproveitem ao máximo este período para crescer, aprender com o vosso orientador, estabelecer colaborações nacionais e internacionais e descobrir o que realmente gostariam de fazer no final deste percurso. E, acima de tudo, mantenham hobbies e interesses fora do doutoramento, pois são essenciais para o vosso bem-estar físico e mental.

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